Vivi grande parte de minha vida em Salvador, na Bahia. Nasci nesta linda
e caótica cidade solar e vivi nela até 2007, quando me mudei para São Paulo.
Desde então, uma grande e profunda nostalgia me toma quando falo da
cidade. Sempre lembro dela, de sua atmosfera leve, de seu povo
sorridente, do tempero dos seus pratos, da brisa à noite, da sonoridade
do mar, quando eu passava pela orla, saindo da faculdade e voltando para
casa de ônibus. Lembro também de vários fins de tarde que passei no Solar do Unhão,
um dos meus lugares preferidos na cidade e que todos deveriam conhecer e
assistir, pelo menos uma vez na vida, a um pôr-do-sol por lá. No
entanto, nunca (nunca mesmo) havia passado uma tarde em Itapuã, mesmo que Caymmi, Vinicius de Moraes ou Caetano Veloso sempre ecoassem em minha cabeça cantando Itapuã em versos.
Em minha última visita a Salvador, resolvi atender ao chamado de Vinicius de Moraes
e lá fui eu “passar uma tarde em Itapuã/ ao sol que arde em Itapuã/
ouvindo o mar de Itapuã”, acompanhada de minha grande e querida amiga Clara Miyagui.
Chegamos lá no fim do dia, justamente para assistir ao pôr-do-sol na
praia. Escolhemos então uma barraquinha na balaustrada, pedimos uma
cervejinha e ficamos lá, só ouvindo o mar se arrebentar nas pedras e
desfazer suas ondas na areia, enquanto o sol não desaparecia no
horizonte. Ao longe, também avistávamos a sereia de
Itapuã, que acabou ganhando um cantinho só dela, no lugar que é em si
sua morada: o mar. Ao longe, a sereia parece pentear seus longos
cabelos, enquanto espera alguma embarcação passar e, com seu canto,
levar algum pescador apaixonado para o fundo do oceano.
O sol aos poucos se põe, majestoso e
dourado, deixando as águas do mar lindas de se ver. A praia, nesse
horário, geralmente fica vazia. Muita gente acaba se agrupando nos
barzinhos da região ou indo comer o acarajé na Cira,
para celebrar o início da noite, com cerveja, música e bate-papo,
sobretudo no verão, quando a orla em si recebe muitos visitantes. Eu, no
entanto, assisti àquele lindo pôr-do-sol do jeito que eu gosto: no
silêncio só cortado pelo som do mar, quieta, matando de vez a minha
saudade do horizonte que sempre me encantou e ainda me encanta de Salvador.
Nosso amor resplandecia sobre as águas que se movem
Ela foi a minha guia quando eu era alegre e jovem
Nosso ritmo, nosso brilho, nosso fruto do futuro
Tudo estava de manhã
Nosso sexo, nosso estilo, nosso reflexo do mundo
Tudo esteve em Itapuã
Itapuã, tuas luas cheias, tuas casas feias
Viram tudo, tudo, o inteiro de nós
Itapuã, tuas lamas, algas, almas que amalgamas
Guardam todo, todo, o cheiro de nós
Abaeté, essa areia branca ninguém nos arranca
É o que em Deus nos fiz
Nada estanca em Itapuã
Ainda sou feliz
Itapuã, quando tu me faltas, tuas palmas altas
Mandam um vento a mim, assim: Caymmi
Itapuã, o teu sol me queima e o meu verso teima
Em cantar teu nome, teu nome sem fim
Abaeté, tudo meu e dela
A lagoa bela sabe, cala e diz
Eu cantar-te nos constela em ti
Eu sou feliz
Fonte: Jeguiano
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